Com menos de 20 dias para concluir a mudança sem que sua produção fosse afetada, a montadora de veículos de grande porte iniciou as operações do novo CD apenas dois dias depois da montagem das estruturas.
Tão complexo quanto montar um novo CD (centro de distribuição) é transferi-lo de lugar. Porém, para uma empresa em franco crescimento como a Scania, está foi a solução mais adequada para solucionar a falta de espaço de estocagem. Com a inclusão das linhas de caixa de câmbio e diferencial que eram antes fabricadas na Argentina, e o aumento da produção, que desde 2007 ultrapassou a capacidade da fábrica (20 mil unidades ano) era preciso crescer. E rápido. Mais precisamente, em 20 dias.
Como explica Carlos Kato, do departamento de logística da montadora, não havia espaço para crescer dentro do antigo armazém e a mudança era uma solução inevitável. No entanto, era preciso contar com uma empresa que cumprisse com prazos de transferência de modo que não comprometesse o andamento das atividades da Scania e que ainda fosse especializada não apenas em montagens de estruturas de estocagem, mas também na desmontagem das mesmas. “Consultamos diversos prestadores de serviços na área logística até identificarmos o que melhor atendesse as políticas da empresa, como segurança, rapidez e, principalmente, planejamento”, explica o executivo. “É comum encontrarmos empresas desse segmento mais especializadas na execução e menos preparadas para o planejamento, fator este, fundamental para nós”, explica Kato.
A ideia inicial da Scania era contratar duas empresas, cada uma com uma especialidade: uma delas responsável pela montagem e a outra, pela desmontagem. No entanto, uma ideia um tanto audaciosa quanto arriscada veio da Fermad: unir toda a operação, com uma gestão única que seria também mais ágil. Sua tradição no mercado aliada a uma proposta que atendia a todas as exigências da Scania – o que inclui um detalhado planejamento – foram fatores determinantes para que fosse a escolhida para o desafio da transferência logística.
Estratégia
A necessidade de substituir o antigo armazém surgiu em 2007, foi confirmada com o aumento da produção e crescimento consolidado da Scania em 2008, e em janeiro de 2009 o novo CD localizado no município de Mauá estava em pleno funcionamento abastecendo a fábrica da empresa em São Bernardo do Campo, ambos na Grande São Paulo.
No total foram cerca de 90 dias de planejamento. Nesse período, definiu-se o número de profissionais, os dias necessários para desmontagem e montagem, os aspectos de segurança, os turnos de trabalho, o nível de produção, etc. Antes da operação de transferência começar, a Scania cedeu à Fermad 5% da área do antigo CD para que a empresa pudesse testar durante dois dias os tempos de realização de cada etapa, a melhor forma de embalar os componentes das estruturas, como seria dividida a equipe, os materiais necessários, entre outros pontos.
“O processo-piloto permitiu que a empresa identificasse falhas e reajustasse o planejamento, como o formato de acomodação das cargas nos caminhões, que foi revisto com o intuito de evitar acidentes durante o transporte. Cada item apontado no piloto refletiu diretamente no planejamento da operação; no caso do posicionamento da carga no caminhão foi necessário aumentar a quantidade de viagens de 60 para 65 (só para os componentes das estruturas), já que a nova forma ocupava mais espaço”, explica Silvio Barbosa, diretor da Fermad.
As estruturas também foram avaliadas para determinar o prazo de conclusão do trabalho. De acordo com Barbosa, quanto mais antiga é a estrutura mais difícil torna-se a desmontagem. No caso da Scania, os porta-paletes e os “flowracks” tinham quatro anos de operação, e eram consideradas estruturas seminovas.
Operação
Para desativar seu centro de distribuição de peças e transferir toda a estrutura e os materiais para a nova unidade, a Scania, uma das maiores montadoras de veículos de grande porte do mundo, dispunha de menos de 20 dias em seu calendário de férias para concluir a mudança sem afetar a produção. A Scania precisava ter certeza de que o período de férias da fábrica seria respeitado, pois o volume normal de movimentação do CD ultrapassa 4 mil caixas por dia. Misturar a mudança com esse volume seria um risco para a segurança da operação.
Como a equipe contou com cerca de 65 profissionais só para a montagem e desmontagem das estruturas, a Fermad dividiu os profissionais por atividade. No total, as estruturas de armazenagem possuíam 28 mil longarinas e mil módulos “flow racks” que precisavam ser desmontados e montados no novo CD, praticamente ao mesmo tempo. A operação de desmontagem teve início no dia 12 de dezembro de 2008, e dois dias depois o novo CD já iniciava a montagem das estruturas.
A Fermad optou por dividir a equipe conforme a operação. A montagem, por exemplo, exigia mais profissionais e equipamentos e foi composta por um supervisor, um líder, cinco equipes de cinco homens, cinco ajudantes, três empilhadeiristas, um supervisor de segurança. Já a desmontagem foi composta por um número menor de colaboradores: um supervisor, um líder, quatro equipes de cinco homens, quatro ajudantes, um empilhadeirista e um motorista. Cada equipe de quatro homens da desmontagem era responsável por desmembrar mais de seis mil longarinas, cerca de 48 longarinas por hora. Para garantir que nenhum grupo trabalhasse a mais ou a menos, estabeleceram-se médias máximas (51,5 longarinas/hora) e mínimas (23,4 longarinas/hora) para cada equipe. “Como trabalhávamos com um prazo curto, estava vetada a ausência de peças para montar as estruturas por consequência de um atraso da desmontagem, mas também não poderíamos superlotar o novo CD com as longarinas, pois isso criaria restrições para a movimentação dentro do armazém. Era necessário impor um equilíbrio”, relata Barbosa.
Depois de desmembradas, as longarinas, os montantes, as bandejas de “flow rack” e os separadores foram amarrados em lotes padronizados e unitizados em palete modelo PBR (1 m x 1,2 m). Em seguida, as cargas foram embarcadas nas carretas do operador logístico da Scania e transportadas até o novo CD. O percurso de 13 km entre o antigo CD localizado em São Bernardo do Campo e o novo, em Mauá, gerou cerca de 400 viagens, incluindo os materiais para armazenagem.
Segurança
Assegurar que a transferência ocorreria sem intercorrências era fundamental para a Scania, e por isso a Fermad precisou seguir todos os preceitos de segurança estabelecidos pela montadora e pelas normas trabalhistas que incluíam o uso de equipamentos de segurança, exames médicos, roupas adequadas e, principalmente, treinamento. Para isso foi contratado um consultor, que ministrou cursos sobre segurança do trabalho para todos os envolvidos no projeto.
Para diferenciar e facilmente identificar os profissionais e suas respectivas atividades, a Fermad desenvolveu camisetas de cores diferentes: vermelho indicava os colaboradores que poderiam trabalhar em níveis elevados e azul os operadores que só atuavam em níveis baixos. Diariamente, os responsáveis pela operação desenvolviam um relatório para a área de logística da Scania, com o intuito de a montadora acompanhar o desempenho de cada equipe.
Para Carlos Kato, do departamento de logística da Scania, a transferência foi um sucesso e atendeu a todas as expectativas da empresa porque além de contar com um planejamento muito bem elaborado, foi operacionalizado por prestadores de serviço qualificados e com ampla experiência nesse tipo de operação – o que transmite maior segurança a todos os envolvidos na operação.